Versos e Subversas: Joan Baez


Aproveitando o texto da semana passada sobre a luta contra a "dependência afetiva" a que a mulher é """educada""", trago uma música muito interessante do Dylan e que fica ainda mais interessante na voz de Joan Baez (pela qual sou completamente apaixonado, me permitam a declaração).

Joan Chandos Baez nasceu em 9 de janeiro de 1941, em Staten Island, Nova Iorque, Estados Unidos. É considerada uma das maiores cantoras folk do mundo. Ativista, é também considerada uma das pessoas chave do movimento de protesto dos anos 60, ao lado de Bob Dylan, com quem foi "casada". Ambos participaram da marcha ao lado de Martin Luther King em Washington, 1963. Seus grandes sucessos foram compostos por Dylan especialmente para ela, desde 1961. Dona de uma voz poderosa, doce e extremamente afinada, seus sucessos sempre foram voltados para as canções politizadas. Nos anos 60 começou a misturar ritmos e sons latinos ao seu trabalho. Filha de mexicanos, Joan sempre se interessou pela musicalidade dos ritmos folclóricos da América Latina, chegando a participar de concertos e discos com Mercedes Sosa.

 Joan Baez, por mais que se diga não-feminista (em suas palavras, vê toda a humanidade fracionada e precisando de ajuda, e não só as mulheres) é certamente uma das cantoras fundamentais sobre a temática (procure, por exemplo, a canção "Birmingham Sunday" sobre o assassinato de 4 mulheres negras por racistas da Ku Klux Klan, ou então, "Bread and Roses", sobre a greve de trabalhadoras de uma indústria têxtil em 1912). Engajada em diversas causas políticas de seu tempo, sempre foi muito corajosa e deu a "cara a tapa" abertamente se posicionando contra machismos, guerras e políticas conservadoras. Inclusive, credita-se parte das razões do término da relação com Dylan, dentre outras coisas, a falta de posicionamento político explícito desse... e ela seguiu seu caminho.

A música que trago hoje, "It ain't me babe", não só crítica o padrão romântico de envolvimento afetivo, extremamente dependente a que as mulheres são "conformadas", como apresenta a possibilidade de uma nova forma de relação, aberta para o mundo e para as outras pessoas. Nada de "casais-gosma", fechados em si, nada de mulheres ou homens sanguessugas. Muito interessante que o discurso da música parte da negação, visível no título e no refrão. As canções de amor, em geral, partem da afirmativa: "você é o grande amor da minha vida!", "é você!", "eu faço tudo por você!"... e, aqui, Dylan (e Baez) vão negando, uma a uma, as proposições típicas do envolvimento afetivo romântico monogâmico, exclusivista e dependente: não sou alguém que vai sempre te ajudar; não sou alguém que vai sempre te impedir de cair; não sou alguém que vai morrer por você; não sou alguém que vai considerar tudo que você faz ótimo, só porque é você quem faz. O último verso, em especial, é muito forte e bonito: nega-se a idéia de um "amor para a vida"... ser um amor da vida é muito pouco!!! Dylan e Baez querem mais, toda uma geração, à época, ansiava por muito mais, por uma vida que não se fechasse em apenas um outro, mas que a partir desse se abrisse pra todos os demais e para o mundo, para as questões de seu tempo.

No lindo vídeo, abaixo, Joan Baez canta com aquele seu olhar meio ChicoBuarquiano, ao mesmo tempo doce e firme, ao mesmo tempo presente e ausente. E antes de começar a cantar ela diz: “Essa é uma música de protesto… dedicada a todas as pessoas casadas da audiência ou que estão pra se casar… porque eu sou contra o casamento!”. Para quem se interessar pela temática e pela cantora, vale muito a pena procurar seu "The Joan Baez Lovesong Album". Uma outra música do Dylan, também cantada pela Baez, sobre a desconstrução do amor romântico, é "Love is a four letters word". Mas esse é papo prum outro "Versos e Subversas"





NÃO SOU EU, BABY
(Bob Dylan, na voz de Joan Baez)

Vá embora pela minha janela
Vá embora na velocidade que você quiser
Não sou quem você quer, baby
Não sou quem você precisa.
Você diz que está procurando por alguém
Que nunca seja fraco, mas sempre forte
Para proteger e defender você
Sempre que você esteja errada ou certa
Alguém para abrir toda e qualquer porta.

Refrão:
Mas não sou eu, baby
Não, não, não, não sou eu, baby
Não sou eu quem você está procurando.

Vá calmamente do abismo, baby
Vá calmamente pelo chão
Não sou quem você quer, baby
Eu vou sempre te decepcionar.
Você diz que está procurando por alguém
Que prometa nunca partir
Alguém que feche seus próprio olhos por você
Alguém que feche seu coração
Alguém que morra por você e mais.

Refrão:
Mas não sou eu, baby
Não, não, não, não sou eu, baby
Não sou eu quem você está procurando.

Vá fundir-se novamente à noite, baby,
Tudo aqui dentro é feito de pedra.
Não há nada se movendo aqui
E, mesmo assim, eu não estou sozinho.
Você diz que está procurando por alguém
Que vá te segurar cada vez que você cair,
Que vá te dar flores constantemente
E que virá sempre que você chamar,
Um amor pra sua vida e nada mais.

Refrão:
Mas não sou eu, baby
Não, não, não, não sou eu, baby
Não sou eu quem você está procurando.


It Ain’t Me, Babe
(Bob Dylan)

Go ’way from my window
Leave at your own chosen speed
I’m not the one you want, babe
I’m not the one you need
You say you’re lookin’ for someone
Never weak but always strong
To protect you an’ defend you
Whether you are right or wrong
Someone to open each and every door
But it ain’t me, babe
No, no, no, it ain’t me, babe
It ain’t me you’re lookin’ for, babe

Go lightly from the ledge, babe
Go lightly on the ground
I’m not the one you want, babe
I will only let you down
You say you’re lookin’ for someone
Who will promise never to part
Someone to close his eyes for you
Someone to close his heart
Someone who will die for you an’ more
But it ain’t me, babe
No, no, no, it ain’t me, babe
It ain’t me you’re lookin’ for, babe

Go melt back into the night, babe
Everything inside is made of stone
There’s nothing in here moving
An’ anyway I’m not alone
You say you’re lookin’ for someone
Who’ll pick you up each time you fall
To gather flowers constantly
An’ to come each time you call
A lover for your life an’ nothing more
But it ain’t me, babe
No, no, no, it ain’t me, babe
It ain’t me you’re lookin’ for, babe

(texto e tradução de Jeff Vasques)

2 comentários:

  1. Também sou apaixonada pela Joan Baez e pelas letras anti-românticas do Bob Dylan. Dizem que o "no,no,no" foi uma tiração do "she loves you, yeah, yeah, yeah" dos Beatles!

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  2. Joan Baez. Gosto da versão dela para "Donna Donna" :)

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